quinta-feira, 24 de junho de 2010

Deus do sonho



Quando saio na linha da vida

A luz do meio-dia declama meu chegar

E barra o tardo na porta de saída

Cansada de guardar meu sono, boceja pra libertar-la

E pra disparar tiro feito penas de salivas sobre o esgoto da inconsciência

E mesmo que sonolento

O gosto da vida me chama pro café perdido

Vou de pés calçados de conjuntura ritímica

E o sangue parado toma gosto pra coisa

Fervem em densos movimentos e os meus pés levantam vôo

Representado como um jovem destro e enérgico, salto!

Transforma-me em Hermes de súbita metamorfose

Fazendo-me deus do sonho, dono de mim

Pois minhas asas são de aço

Minha alma é de nuvens

Minha vida é de Vênus

É de sonhos.

Stênio França, 19 de junho de 2010.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

O susto do vento

Solidão de meus pesares que sente-me

E sempre vejo, pois enxergo além

Muito além do escancarado

Que oscila entre a cama e endereços

Entre medos e lençóis, a ânsia do desmoronamento

Camuflar, camaleado de cores azul anil

Pra cobrir a tormenta dos meus dias

De noites sóbrias e apavoradas

Amedronta-me a interpretação do vento

Que é o curinga do meu quarto

Personagem invisível nas minhas costas

Que brinca com o movimento

Que é de fases, faz do vento lua

E conversa o dialeto da árvore

Recusável companhia.

Stênio França, 13 de junho de 2010.

domingo, 13 de junho de 2010

De novo


Num quarto de hotel barato

Os fatos se vestem de prazer

A noite batiza o erótico

E cuida da benção eterna, do gozo sólido

Mãos entre mãos, corpos entre corpos

O balé da sincronia perfeita

O entre e sai da alma

Do avoroso

Da vida que nem é bela, mas logo se torna

Pois o dia canta ao acordar, belisca pra lembrar

Refresca a memória impagável

Trás consigo o gosto da bebida dos deuses

E repete a canção da vontade noutro dia.

Stênio França, 09 de julho de 2010.

domingo, 6 de junho de 2010

Noturno



Ando variando vias

Costurando trilhas

Baleando em vidas

Procurando o noturno

No escuro que se vê – que finge ver.

Vago vagaroso

Arrasto-me nas profundas

Oscilo entre nuvens

Sem contenção

Sem piedade

Cem sentimentos

Infinitamente.

Stênio França, 02 de junho de 2010.