quinta-feira, 8 de julho de 2010

Relatos de saudade numa carta de salvação


Da varanda, no final do dia, o horizonte que te levou de mim agora separa cores da aurora e nunca mais se tratou de te trazer de volta para cá.

Aqui - se ainda lembras - onde o barro é duro, as telhas saem pra se refrescar, janelas choram e as plantas falam línguas, os meus dias, desde então passam vagos e tristes de saudade tua. Vilarejo encantado que mais parece um cisco minúsculo no mapa mundi, agora abriga o meu ser imenso infeliz e esconde os meus fantasmas na solidão febril. O encantado, ao meio, se partiu.

Agora, feito cobra que se arrasta pelo chão limpo e pensamentos que martelam os mesmos pregos quebrados, vivo.

Desde muito sempre, os meus olhos cansados denunciam meu desejo por tua salvação. Nunca mais vi felicidade no meu semblante ­­­­­defronte ao espelho antigo, e que já desenhado de velhice, agora só empurra o meu desanimo no abismo profundo do esquecimento.

Mas com um único suspiro de esperança, escrevo-te nessa ultima carta azul e casta os meus mais puros sentimentos – transformo letras em fumaças e o meu sinal feito em voz de agudo alto de desespero. E tu, ao ler cantando, sentirás molhada a folha, gotas por gotas minhas e logo saberás que o meu choro amargo se transcendeu no papel doce, serão alarmes recitantes e soarão feito grito que em noites longas se enrola no embaraço do meu medo e eu suplico ajuda.

Vem e me retiras. De um salto só, quero cantar louvores e ver a luz dos teus olhos me iluminarem outra vez.

Porque tua lembrança fere a promessa feita. Sinto meu peito espremer de dor e contrair de vontade de fuga.

E de muito da vida agora, só me resta o frio da tua ausência impagável se formar em corpo e tocar o meu pra ver minha alma pedir saída.

Cede de morte, de vida.

Agora só me cabe o teu mundo, vem e me salva, leva-me contigo na dança fúnebre dos teus anjos pra sempre.

Stênio França, 04 de julho de 2010.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Caber em ti


Pede — feito em prece e em versos de inseguranças — como a última vontade de ser profundo, ser de aço a boca e se fundir com o líquido da minha. Sem ferrugem.

Onde cabe sussurro, cabe fome e sede de carne tua.

Poder semear em ti e enfeitar o íntimo quando a cama não mais denuncia a bagunça da penumbra noite passada.

Pede transgressão.

Como se a alma quisesse ser dona tua e ocupar-se de sentimentos vazios de outrora.

Ler de olhos a linguagem corporal única. Nela há um lado gelo e outro quente, há um lado amor e outro também.

Almeja (consciente) o encontro farto pra ver tomar dinâmica viril e ceder feito escravo do prazer reprimido.

Deixa — no final — o desejo singular se fundir com a plenitude do efeito da tua voz seduzida ao meu ouvido.

Ambos pedem afetos sólidos mutuamente.

Pede a minha vaga em ti.


Stênio França, 27 de junho de 2010.