
Da varanda, no final do dia, o horizonte que te levou de mim agora separa cores da aurora e nunca mais se tratou de te trazer de volta para cá.
Aqui - se ainda lembras - onde o barro é duro, as telhas saem pra se refrescar, janelas choram e as plantas falam línguas, os meus dias, desde então passam vagos e tristes de saudade tua. Vilarejo encantado que mais parece um cisco minúsculo no mapa mundi, agora abriga o meu ser imenso infeliz e esconde os meus fantasmas na solidão febril. O encantado, ao meio, se partiu.
Agora, feito cobra que se arrasta pelo chão limpo e pensamentos que martelam os mesmos pregos quebrados, vivo.
Desde muito sempre, os meus olhos cansados denunciam meu desejo por tua salvação. Nunca mais vi felicidade no meu semblante defronte ao espelho antigo, e que já desenhado de velhice, agora só empurra o meu desanimo no abismo profundo do esquecimento.
Mas com um único suspiro de esperança, escrevo-te nessa ultima carta azul e casta os meus mais puros sentimentos – transformo letras em fumaças e o meu sinal feito em voz de agudo alto de desespero. E tu, ao ler cantando, sentirás molhada a folha, gotas por gotas minhas e logo saberás que o meu choro amargo se transcendeu no papel doce, serão alarmes recitantes e soarão feito grito que em noites longas se enrola no embaraço do meu medo e eu suplico ajuda.
Vem e me retiras. De um salto só, quero cantar louvores e ver a luz dos teus olhos me iluminarem outra vez.
Porque tua lembrança fere a promessa feita. Sinto meu peito espremer de dor e contrair de vontade de fuga.
E de muito da vida agora, só me resta o frio da tua ausência impagável se formar em corpo e tocar o meu pra ver minha alma pedir saída.
Cede de morte, de vida.
Agora só me cabe o teu mundo, vem e me salva, leva-me contigo na dança fúnebre dos teus anjos pra sempre.